quarta-feira, 12 de junho de 2013

A VIAGEM

Na mais absoluta solidão a experiência da leitura se torna, assim, experiência de uma viagem, obviamente não exterior mas toda interior.

Navegando no “oceano narrativo” de um romance moderno ou de uma antiga história e no mar das formas líricas antigas ou modernas, percorremos, como peregrinos a nossa viagem, à procura também de nós mesmos, e indagamos nossa própria interioridade: “Trata-se do início de uma peregrinação espiritual, de uma viagem à descoberta de si: na estrada o leitor terá acesso à luz que lhe revelará o próprio eu. 

O livro é um “mundo” e ao interno desse mundo se viaja, se navega, se faz exatamente uma peregrinação”.

E nessa peregrinação o leitor é também consciente que “os livros melhores são exatamente aqueles que dizem aquilo que já sabemos” (George Orwell, 1984). 

Por outro lado, “Sócrates afirmava que aquilo que o leitor já conhece pode ser vivificado só lendo”. É uma questão de sintonia e de afinidade, sem a qual fica comprometida a compreensão dos textos literários por parte do leitor: “A compreensão pressupõe uma congenialidade, uma sintonização, uma afinidade”. 

Para fazer isso é necessária a disponibilidade ao sentido do mistério e o contato com a própria realidade: A mente que sabe entender a boa narrativa não é necessariamente aquela instruída, mas a mente sempre disposta a aprofundar o sentido da realidade através do contato com o mistério. 

É o leitor, portanto, que atribui significado, pessoal e existencial, à leitura que ajuda a entender a si mesmo e as próprias relações com o mundo.

É sempre o leitor que lê o sentido; é o leitor que garante ou reconhece certa possibilidade de legibilidade num objeto, num determinado lugar; é o leitor que deve atribuir significado a um sistema de sinais, e depois decifrá-lo. 

Todos lemos nós mesmos e o mundo ao redor para entrever o que somos e onde estamos.

Lemos para entender ou para começar a entender. Não podemos deixar de ler. Ler é quase como respirar, é a nossa função essencial. “Penso que poderia talvez viver sem escrever, mas não acredito que poderia viver sem ler”. 

Livro: "Como farpas de luz" - caminho linguístico e literário na história de Chiara Lubich no ano de 1949 - pág 36


Pedro Arfo

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