Quem
vive, vive a própria vida. Quem lê, vive também as vidas dos outros.
Como a uma vida existe em relação com as outras vidas, quem não lê não entra nessa relação, e portanto não vive nem mesmo a própria vida, perde-a.
A escrita documenta o trabalho do mundo. Quem lê livros e artigos, herda esse trabalho, é transformado, no final de cada livro ou de cada artigo tornando-se diferente de como era no início.
Se
alguém não lê livros nem artigos, ignora esse trabalho, é como se o mundo
trabalhasse para todos, mas não para ele, a humanidade corre, mas ele está
parado.
A
leitura permite conhecermos a civilização dos outros. Mas como a própria
civilização se conhece somente em relação com outras civilizações, quem não lê
não conhece nem mesmo a civilização aonde nasceu: ele é estranho ao seu tempo e
a sua gente. Um povo não pode permite-se ter indivíduos que não leem.
Quando
lemos nos recolhemos na solidão, procuramos um lugar separado onde não ser
perturbado. Isso acontece porque temos a consciência que entramos na parte mais
íntima de nós mesmos, na nossa mais secreta interioridade, onde não há acesso
nem mesmo para as pessoas mais queridas. Por isso o lugar da leitura é um lugar
solitário, o tempo parece suspenso, o espaço é aquele da aventura da alma.
O
silêncio e a solidão adquirem, nesse caso, um valor positivo: “Nós somos
habituados a dar um significado de melancolia negativa às palavras como
“silêncio” e “solidão”. No caso da leitura não é assim, ao invés, aquele
silêncio e aquela solidão, marcam a condição orgulhosa do ser humano somente
com os seus pensamentos, capaz de esquecer por algumas horas “todos os
problemas”.
C. Augias, Ler. Porque os livros nos fazem melhores, mais alegres e mais livres.
Pedro Arfo
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