domingo, 6 de janeiro de 2013

O DEMÔNIO DO ATIVISMO

O demônio do ativismo não significa ser muito ativo ou muito trabalhador, ou ter muitas ocupações diversas. Ser ativo, não é ser “ativista” como tentação.

O ativismo se produz na medida em que aumenta a distância e a incoerência entre o que faz e diz, entre o que se é e o que se vive. 

É verdade que na condição humana aceitamos como normal a inadequação entre o “ser” e o “agir” mas, no caso do ativismo, ela é acentuada e tende a crescer, não a diminuir, como seria o ideal.

O ativismo tem muitas expressões. Uma delas é a falta de renovação na vida pessoal. Neste caso, normalmente a oração é insuficiente e deficiente. Não há momentos prolongados de silêncio e retiro. Não se cultiva o estudo, apenas se lê. 

Nem sequer se deixa tempo para descansar o suficiente e repor-se. Paralelamente, há sobrecarga de trabalho, de atividades múltiplas, e a agenda de compromissos costuma estar cheia. O ativista dá a impressão de que é necessário, como estilo de vida, um grande volume de trabalho externo. 

Daí a criação de um círculo vicioso, cuja origem – excessiva atividade ou negligência em renovar-se – não é fácil identificar:  por um lado está o aumento de atividades que faz cada vez mais difícil tomar as medidas de renovação interior,  e que são as que conduzem ao crescimento no “ser”;  por outro lado a incapacidade (que tende a crescer) de renovar-se tende a compensar-se e disfarçar-se com a entrega a um ativismo desenfreado. Em última análise, o ativismo é a desculpa do “escapismo”.

O ativismo também se exprime numa das distorções mais radicais: colocar toda a alma nos meios de ação, no que se organiza e se faz, esquecendo-se de Deus, quem é, afinal de contas, por quem se faz, se organiza e se trabalha.

Com isso, se transforma num profissional que multiplica iniciativas, habitualmente boas, não parando para discernir, para perguntar a Deus se são necessárias ou oportunas ou se é preciso fazê-las agora e desta maneira. Assim, os meios acabam obscurecendo seu sentido e seu fim.

Outra expressão do demônio do ativismo é não trabalhar ao ritmo de Deus, substituindo-o pelo próprio ritmo. Isso ocorre quando se vai mais rápido ou mais lento do que Deus. Normalmente, o ativista, pelo menos num primeiro momento, costuma pecar por aceleração. 

Em todo caso, dado o aparente fracasso de seu projeto, o ativista, uma vez tendo experimentado o demônio da impaciência, facilmente cai na tentação do desânimo.

“Aqui, com essa gente, não se pode fazer nada”. Pois, a impaciência e o desânimo são gêmeos. Ambos são filhos do orgulho, da autossuficiência, do esquecer que “tanto o que planta como o que rega não são nada, e sim Deus que faz crescer” (1 Cor 3,7).



Trecho do artigo de Segundo Galileia
Pedro Arfo

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